Com raízes políticas e estratégicas, a criação de Goiânia, quase nomeada "Petrônia", simbolizou o rompimento com o passado e o início de uma nova fase para o Estado de Goiás
Quem visita a capital goiana se encanta com suas belezas, gastronomia e opções de lazer. Mas muitos se perguntam qual é a sua história e por que Goiânia recebeu esse nome. Para fortalecer o sentimento de pertencimento entre os goianienses e responder às dúvidas de turistas e curiosos, o portal Gazeta Culturismo reuniu os principais fatos sobre a história da cidade e a origem do seu nome.
A ideia de transferir a capital do Estado de Goiás já circulava desde a Proclamação da República, em 1889, mas só se concretizou décadas depois, com a fundação de Goiânia. A antiga capital, a cidade de Goiás (antiga Vila Boa), surgida no século XVIII durante o ciclo do ouro, perdeu relevância econômica após a decadência das minas. Com a ascensão de municípios voltados à pecuária e à agricultura no sul goiano, crescia a pressão por uma nova sede administrativa.
A Revolução de 1930, que levou Getúlio Vargas ao poder, abriu espaço para mudanças significativas nos estados. Em Goiás, o médico Pedro Ludovico Teixeira foi nomeado interventor e, desde o início, rompeu com a estrutura política tradicional. Ele via na mudança da capital uma forma de estimular a ocupação de regiões pouco povoadas, fortalecer a economia e integrar o Centro-Oeste ao restante do país.
Em 1932, uma comissão liderada por Dom Emanuel Gomes de Oliveira foi formada para estudar a melhor localização para a nova capital. Mesmo enfrentando forte oposição política, Pedro Ludovico defendia que o projeto não representava um gasto, mas sim um investimento em infraestrutura e desenvolvimento regional. O relatório da comissão, apresentado em 1933, apontou uma área próxima ao povoado de Campinas como a mais adequada para a nova cidade.
O Decreto Estadual nº 3.359, de 18 de maio de 1933, oficializou a escolha da região às margens do Córrego Botafogo, abrangendo as fazendas Criméia, Vaca Brava e Botafogo, como sede da nova capital. A fundação simbólica de Goiânia ocorreu em 24 de outubro de 1933, marcando os três anos da revolução que levou Pedro Ludovico ao poder.
O projeto urbanístico da cidade foi elaborado pelo arquiteto Attilio Corrêa Lima, que propôs uma capital moderna, funcional e planejada, inspirada em correntes urbanísticas europeias. Inicialmente projetada para abrigar cerca de 50 mil habitantes, Goiânia cresceu de forma muito mais acelerada do que o previsto.
Nos primeiros anos, o crescimento de Goiânia foi moderado. No entanto, entre 1951 e 1965, com a chegada da estrada de ferro, a retomada da política de interiorização de Vargas, a inauguração da Usina do Rochedo e, principalmente, a construção de Brasília, a capital goiana experimentou uma explosão demográfica.
Em 1965, apenas 32 anos após sua fundação, a cidade já abrigava cerca de 150 mil habitantes. Na década de 1960, surgiram aproximadamente 125 novos bairros, gerando enorme demanda por infraestrutura, energia, transporte e educação. Goiânia deixava de ser apenas um símbolo político para se consolidar como um verdadeiro polo urbano e econômico.
Em 1933, por ocasião do lançamento da pedra fundamental da nova capital, o jornal da cidade de Goiás promoveu o concurso “Como se deve chamar a Nova Capital?”, aberto à participação popular. A primeira sugestão foi feita pelo intelectual Léo Lynce, que propôs o nome Petrônia, em homenagem a Pedro Ludovico, aos imperadores Dom Pedro I e Dom Pedro II, e a São Pedro, apóstolo e fundador da Igreja Católica.
Outra sugestão veio do professor Alfredo de Faria Castro, que utilizou o pseudônimo Caramuru Silva do Brasil. Foi ele quem propôs o nome que seria posteriormente escolhido: Goiânia. Segundo o professor, o nome significava “Nova Goiás”, ou seja, a capital que sucederia a antiga Vila Boa, dando continuidade à sua história.
Apesar da vitória de Petrônia na votação popular — com mais de 100 votos contra menos de 10 para Goiânia — a escolha oficial só foi anunciada dois anos depois. Até então, a cidade era chamada informalmente de “futura capital” ou “nova capital”.
Foi apenas no decreto de criação oficial do município, em 1935, que Pedro Ludovico batizou a cidade como Goiânia, ignorando completamente o nome que fazia referência direta a ele. Diversos relatos de pessoas próximas afirmam que Ludovico evitava qualquer forma de personalização ou culto à própria imagem, preferindo associar a nova capital a ideais coletivos e regionais.
Além do significado simbólico apresentado por Alfredo de Castro, a palavra Goiânia também tem origem no tupi-guarani Goyanna, que significa “terra de muitas águas”. O nome é bastante apropriado: a cidade possui 85 mananciais catalogados, incluindo o Rio Meia Ponte, quatro ribeirões (Anicuns, João Leite, Capivara e Dourados) e 80 córregos.
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