Especialista acredita que professores podem ajudar a detectar sofrimento psicológico em alunos

Capacitação de educadores é decisiva para o bem-estar emocional de crianças e adolescentes nas salas de aula

Especialista acredita que professores podem ajudar a detectar sofrimento psicológico em alunos (Foto

Professores de todo o Brasil estão sendo desafiados a identificar sinais de sofrimento psicológico entre crianças e adolescentes ainda nos primeiros anos escolares. Um simples isolamento repentino, dificuldades de socialização ou queda no rendimento podem ser os primeiros indícios de que algo não vai bem. O alerta vem de Thyago Henrique, psiquiatra formado pelo Hospital Albert Einstein, que defende a capacitação urgente dos profissionais da educação.

Para o especialista, o papel dos docentes vai muito além do ensino tradicional. Eles estão na linha de frente e têm o potencial de notar alterações comportamentais antes mesmo da família. “Quando uma criança tem um transtorno mental, ela precisa de um cuidado multidisciplinar. E o professor faz parte dessa equipe. É ele quem passa mais tempo com o aluno e está na linha de frente para perceber mudanças de comportamento. Se esse profissional estiver capacitado, ele pode atuar de forma decisiva na vida da criança”, afirma.

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), entre 10% e 20% dos adolescentes no mundo convivem com algum tipo de transtorno mental. No Brasil, o aumento de casos nas escolas preocupa especialistas. Segundo a Sociedade Brasileira de Pediatria, diagnósticos de ansiedade, depressão, TDAH e TEA se tornaram mais frequentes, exigindo um olhar mais atento dos educadores.

Formação contínua pode evitar evasão e revelar talentos ocultos

A história de Thomas Edison é um exemplo clássico. Aos sete anos, foi expulso da escola sob o rótulo de ser “mentalmente lento”. Mais tarde, estudos e biógrafos como Paul Israel, autor de “Edison: A Life of Invention”, sugeriram que Edison tinha comportamentos compatíveis com TDAH. Graças à atenção da mãe, que decidiu educá-lo em casa, o menino considerado inapto revelou-se um dos maiores inventores da história.

A falta de preparo na rede de ensino pode fazer com que talentos semelhantes sejam desperdiçados. “Criança é curiosa, é bagunceira. Quando isso muda, e ela passa a ficar mais calada, mais arredia, já acendemos o sinal de alerta. A chave está na quebra de padrão comportamental. Nem toda criança introvertida está com um problema, mas toda mudança significativa de comportamento merece atenção”, explica Thyago.

Além da observação dentro da sala de aula, o especialista defende uma relação sólida entre escola e família. “Mais importante do que perguntar diretamente à criança o que está acontecendo é conversar com os pais. A família precisa ser envolvida no processo”, ressalta.

Saúde mental infantil também é questão de segurança pública

Sem apoio emocional e pedagógico, crianças e adolescentes com transtornos mentais enfrentam dificuldades de aprendizado e têm mais chances de abandonar os estudos. O impacto vai além da vida acadêmica. “O trabalho da criança é estudar. Se ela está doente, ela não consegue aprender. E isso vira uma bola de neve que impacta toda a estrutura social”, alerta o médico. “É por isso que saúde mental infantil é também uma questão de segurança pública, de economia e de futuro.”

O especialista defende que os professores tenham acesso a formação contínua, aprendendo a lidar de forma ética com sintomas e comportamentos diversos, sem assumir o papel de médicos. O foco é na observação qualificada, com estratégias respeitosas que ajudem a criança sem rotulá-la.

Outro ponto frequentemente ignorado é a saúde mental dos próprios educadores. O ambiente escolar é exigente emocionalmente, e muitos professores adoecem por falta de suporte adequado. “O professor está em um ambiente de alta carga emocional. Se ele não estiver bem, ele não consegue ensinar nem acolher. É preciso cuidar de quem cuida”, reforça.

Médico acredita que o “conhecimento é a principal arma” contra o sofrimento psicológico

A proposta de Thyago integra um projeto que busca tornar a escola um ambiente mais humano e preparado para lidar com a diversidade emocional dos alunos. A iniciativa envolve campanhas de conscientização, redes de apoio e treinamentos especializados.

O médico defende que, com o conhecimento certo, os educadores podem se tornar aliados fundamentais na transformação de trajetórias e ajudar na identificação do sofrimento psicológico entre alunos. “Conhecimento é a principal arma. Professores bem formados ajudam a transformar vidas e a garantir que menos crianças fiquem para trás. Afinal, quantos Thomas Edisons já não perdemos por falta de acolhimento e compreensão?”, finaliza.

Receba as principais notícias diariamente em seu celular. Entre no canal de WhatsApp do portal Gazeta Culturismo clicando aqui.


Pollyana Cicatelli
Autor: Pollyana Cicatelli

Jornalista pós-graduada em Comunicação Organizacional e especialista em Cultura, Arte e Entretenimento. Com ampla experiência em assessoria de imprensa para eventos, também compôs redações de vários veículos de comunicação. Já atuou como agente de viagens e agora se aventura no cinema como roteirista de animação.

Copyright © 2024 // Todos os direitos reservados.