Evento reúne artistas e intelectuais negras nos dias 20 e 21 de setembro no Centro Cultural Martim Cererê
Nos dias 20 e 21 de setembro, o Centro Cultural Martim Cererê, em Goiânia, será palco do primeiro Festival Diaspóricas de Cinema e Música Negra. A programação gratuita reúne artistas, pesquisadoras e empreendedoras negras em dois dias dedicados à música, ao audiovisual e à valorização da produção cultural afro-brasileira.
O encontro nasce como um espaço pioneiro em Goiás para destacar a atuação de mulheres negras em diferentes áreas criativas. O público poderá conferir shows, exibição de curtas-metragens, oficinas de formação e uma feira voltada ao empreendedorismo feminino.
De acordo com a idealizadora do projeto, a cineasta Ana Clara Gomes, uma das propostas do Festival Diaspóricas é construir redes de fortalecimento. “O Festival Diaspóricas nos permite criar conexões e redes que nos fortalecem como sujeitas, com trajetórias e histórias muito distintas, mas dividindo condições socioestruturais muito comuns diante de um sistema que nos oprime, seja pela opressão racial ou de gênero”.
Um dos destaques da programação será a Feira Anadir Cezario, dedicada a afroempreendedoras. A iniciativa leva o nome da militante que atua há décadas no combate às desigualdades raciais e de gênero em Goiânia.
Além de coordenar o Grupo de Mulheres Negras Dandara do Cerrado, Anadir criou o projeto Mulheres que transformam Lixo em Lucro, no qual garis e catadoras produzem peças artesanais com materiais recicláveis, gerando renda para famílias inteiras.
As inscrições para expor produtos já estão abertas e podem ser feitas em formulário online. Podem participar mulheres negras que atuam com moda, gastronomia, artesanato ou bem-estar. Informações adicionais estão disponíveis pelo número (19) 98140-3610.
O cinema terá espaço especial no Festival Diaspóricas com a Mostra Marta Cezaria de Curtas-Metragens. A homenagem se refere à cineasta e militante feminista negra que iniciou sua carreira quase aos 60 anos.
Marta se tornou referência ao percorrer comunidades quilombolas goianas para o filme “Se eu fosse uma flor”, lançado em 2013. A obra reuniu relatos de 152 mulheres negras, registrando memórias e lutas históricas.
O festival também funciona como vitrine para novas produções dirigidas por mulheres negras, em um cenário ainda marcado pela exclusão. Um levantamento da iniciativa Águas Correntes – Mulheres no Audiovisual do Centro-Oeste aponta que, enquanto cineastas da região só conquistaram reconhecimento a partir dos anos 1980, as produções negras só começaram a ganhar visibilidade a partir de 2014.
Entre os dias 16 e 19 de setembro, o público poderá participar de oficinas gratuitas que antecedem o Festival Diaspóricas de Cinema e Música Negra. O produtor musical Igor Zargov ministrará o curso “Trilha sonora para cinema”, abordando fundamentos técnicos e práticos da criação musical para filmes.
Já a fotógrafa Mayara Varalho conduzirá a oficina “Câmera Off – Formação Continuada de Making Of”, com foco em práticas de captação, edição e finalização de vídeos em coberturas audiovisuais. As inscrições seguem abertas em formulário online até 12 de setembro.
A parte musical do festival será realizada no Palco Afrogoianianidade, onde a sigla MPB é reinterpretada como Música Preta Brasileira. O espaço vai destacar a diversidade de sonoridades produzidas por artistas negras.
Na primeira noite, o público assiste à banda Mundhumano e às artistas da série “Diaspóricas”: Érika Ribeiro, Nina Soldera, Sonia Ray e Lene Black. No segundo dia, se apresentam Flávia Carolina e banda, o grupo Dona da Roda e o espetáculo “Diaspóricas 2 – O Show”, que reúne Kesyde Sheilla, Maximira Luciano, Flávia Carolina e Inà Avessa.
“Além da importância para cena da cidade, como divulgação da nossa arte e espaço de acolhimento de corpos pretos e suas musicalidade, arte e moda, fazer parte desse movimento fortalece os nossos vínculos. Quem não conhecia passa a conhecer, e isso é a beleza dos encontros”, afirma Flávia Carolina.
Outro marco da festa será o lançamento do álbum “Diaspóricas”, que reúne composições originais de Érika Ribeiro, Nina Soldera, Sonia Ray e Lene Black. O projeto reforça a visibilidade da criação musical de mulheres negras em Goiás.
“O Diaspóricas, em todas as suas extensões que tem se desdobrado, se firma como algo grandioso pela sua necessidade no nosso estado, diante da falta de conhecimento e pertencimento da história do povo preto em solo goiano”, comenta Érika Ribeiro.
Para Ana Clara Gomes, o diferencial do Festival Diaspóricas é dar centralidade às artistas negras em um estado onde essas vozes ainda são silenciadas. “Acredito que a proposta de espelhar esse protagonismo da mulher negra na sociedade por meio das artes, já é uma forma de rompimento das violências estruturais que nos deixam sempre às margens, como figuras subalternizadas”.
A entrada é garantida mediante a doação de 1 kg de alimento não perecível.
SE LIGA
Festival Diaspóricas de Cinema e Música Negra
Data: 20 e 21 de setembro de 2025
Horário: em breve
Local: Centro Cultural Martim Cererê (Tv. Bezerra de Menezes - St. Sul, Goiânia - GO)
Valor: entrada gratuita (mediante doação de 1 kg de alimento não perecível)
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Apaixonada por jornalismo musical, ambiental e político, tem interesse por diferentes culturas e idiomas. Além da redação, é também fascinada por fotografia e pelo universo do entretenimento da Coreia do Sul. Com pautas focadas no mundo da arte, do entretenimento e da cultura pop asiática, busca trazer leveza ao caos do dia a dia, além de promover o acesso à informação e gerar oportunidades para todos.
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